quarta-feira, 14 de julho de 2010

Pulo Moura se foi

Estou em viagem e por isso a dificuldade de acesso a net. No entanto, uma pausa, se faz necessária faleceu Paulo Moura. O grande Paulo Moura, certa vez acredito que disse aqui mesmo que esta ficando muito dificil com tantas perdas e nenhuma substituição. O campo das artes e do pensamento brasileiro definitivamente foi no século passado uma das grandes dádivas do Brasil ao mundo. Agora mais um se foi. é preocupante e assustador estamos ficando a merce do barulho. Portanto, em homenagem a música (este Dom Supremo) silêncio por favor em homenagem ao grande Paulo Moura e depois uma salva de palmas.

Agora do Blog do Nassif:

Madrugada em Ouro Preto - com Paulo Moura


Enviado por luisnassif, ter, 13/07/2010 - 20:34



Por Marcelo Procopio

Paulo Moura - Madrugada: um som sobe a ladeira em Ouro Preto

- uma história que contém Paulo Moura

Marcelo Procopio
Hoje é dia do Rock. Mas quem morreu foi Paulo Moura: “morreu para você filho ingrato” da música. Música é para sempre. Nos anos 1970, quando o Festival de Inverno da UFMG, ainda em Ouro Preto, estava revelando grandes nomes da música, teatro, artes plásticas e tudo o mais, aconteceu um momento mágico. Madrugada, quase dia, e uma som começa a chegar à Praça Tiradentes. Eu e amigos íamos sempre lá nos fins de semana. Quase sem dinheiro – às vezes dormíamos em repúblicas, outras em hotéis de quinta. Mas nem sempre.
Ficávamos a vagar pelas ruas, noites, bares. Conhecendo pessoas, ouvindo música, vendo artistas em esquetes, em todo canto da cidade. Bebendo, ficando loucos. Todo mundo quase louco, todo mundo todo lúcido em busca de novos mundos. Outras culturas. Rejeitando o “novo”, como diziam os tropicalistas que criavam tudo de novo, a partir, claro, de bases existentes. Revoluções são assim.
Servem para mudar radicalmente uma realidade. Como dizia O Onça, personagem de O Cometa, como se você tirasse uma cadeira, a destruísse, e colocasse uma mesa no lugar. Tudo novo. Um novo olhar. Outra história se dando conta que ainda é preciso mudar tudo outra vez. Depois.

Os camburões do Dops ficavam estacionados na Praça Tiradentes. Os policiais se misturavam no meio dos artistas, estudantes, professores, turistas, malucos, drogados, bêbados. Em 1971 prenderam centenas, inclusive o pessoal do grupo Living Theatre – na época, dirigido por Julian Beck e Judite Malina, que ficaram presos semanas, mais de mês no Dops de BH. O Estado de Minas publicou o Diário de Malina na prisão, uma série de vários dias, que tinha guardado e perdi.

A imprensa deu manchetes pelo país. Chamaram de O Festival da Bolinha (tempo de drogas químicas, comprimidas em comprimidos). Até hoje fico pensando no que deu no EM para publicar o Diário, num momento AI-5 da ditadura militar. O Living Theatre era convidado do Festival da UFMG para cursos e apresentações.
Me lembro de um outro episódio inusitado: a gente estava num bar da praça Tiradentes. Um daqueles. Barzão com alta profundidade. No comprimento e nas conversas. Cultura e política. Resistência e insistência. Nem era tarde assim. Antes da meia-noite. Um cara alto, vestido no capote preto, entra no bar, faz um gesto qualquer que chamou a atenção de todos. Todos olham em sua direção. Ele diz em alto e bom tom:

- Cada um na sua idiossincrasia. (Vira-se e vai embora).
E de um outro. Ouro Preto tinha aquele clima de festival. Era uma madrugada de sexta para sábado. E aconteceu:
Era 1971. Poderia ser 1972 - se a memória falha, não é o tempo exato que importa. Era Festival de Inverno da UFMG. Era Ouro Preto.
Era madrugada: 5 horas, quase querendo amanhecer. Ainda havia algum movimento na cidade. Bares, dois, três talvez, abertos na praça Tiradentes. Devia haver policiais do Dops nos cantos, observando.

A gente esperava, no frio, um pedaço de sol. E o fim da loucura, do porre homérico passar. Quase silêncio. Poucas vozes.
Então, como se do nada, um som começou a chegar na praça. Era música. Vinha de longe. Da rua São José. Lá de baixo. Do começo, do fim da ladeira.
A música cada vez mais perto. A gente procurando quem. Avistamos, enfim, um grupo: algumas pessoas seguindo a música. Subindo a rua trazendo a música.

Esperamos, olhando o som. Era um sopro. Um sax. Era homem e um pequeno grupo subindo a ladeira.

Cada vez mais próximo da praça. Cada vez mais gente: aqueles poucos que ainda esperavam um pedaço de sol na noite fria de julho e aquele grupo, ainda menor, que vinha junto com a música.
O músico e sua música chegaram na praça. Agora estávamos todos juntos: a música, o músico, as pessoas e o fim da noite em Ouro Preto.
Todos agora em volta da música. O músico ao lado de Tiradentes, a estátua na praça. A música enchendo a cidade. A gente levado pela música criava um êxtase coletivo. Felicidade. Os olhos. Se fosse possível ver os olhos agora...
Era Paulo Moura no sax. Era madrugada em Ouro Preto. Era um silêncio absoluto. Só havia no ar o som suave do sopro da música de Paulo Moura.
Era para nunca mais esquecer. Era para sempre. Madrugada, Ouro Preto, Paulo Moura e a música.

Comentário do Luis Nassif

Quem diria... Eu estava lá, cobrindo o festival para a revista Veja, no meu primeiro ano de trabalho.



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